Inês Aranha, grande mestra (ao menos para mim), nos presenteia com uma bela entrevista sobre o teatro e a arte do ator. Nesta entrevista saberemos um pouco de sua história, sua formação como bailarina, como isso ajudou-a entrar em uma das melhores escolas do mundo de atuação a Piccolo Teatro Di Milano onde teve contato com nada menos que: Gersey Grotovski, Tadeusz Kantor, Heiner Muller, Pina Bausch, Yoshi Oida, Peter Brook entre outros grandes da nossa época. Saberemos da sua pesquisa como atriz, diretora e professora. Saberemos da angústia que observa em seus alunos recém formados pela falta de perspectiva, pois estão inseridos em um meio sem nenhum apoio governamental efetivo.Conheceremos o que a trouxe de volta ao Brasil depois de 10 anos na Itália, as diferenças entre Brasil x Itália sobretudo no tratamento e apoio a seus artistas. Suas primeiras experiências como professora de atores e como sistematizou seu método de ensino. Entre um Café e boas gargalhadas, foi produzida esta entrevista que espero que os inspire.

Deixo aqui um pequeno tira-gosto do que foi essa conversa, que deverá ser publicada na íntegra em breve.

Como você enxergava sua arte, e como enxerga agora?

20151104_ines2– Igual. Só tenho um pouco mais de pé na realidade. Que tem o sonho, e tem é que caminhar para realizar isso sabendo que pode não se realizar. Mas eu vejo igual, a mesma paixão, a mesma crença, de que arte é arte e produto é produto. Tenho dificuldades enormes de produção e viabilização de projeto. Porque eu não consigo pensar de forma comercial e prática. Então tenho problema sério em falar com captadores, produtores, e acessores. Porque eu gosto e sei falar sobre a paixão sobre técnica do ator, sobre o ponto de vista do artista. E eu continuo sendo uma banana, uma ingênua, porque eu continuo tendo o mesmo tipo de pensamento, embora saiba que ele não leva muito para frente, mas, me faz sentir o real sentido da vida. Esse ponto de vista que tenho desde criânça de que arte é arte.

E eu posso não ter o carro do ano, posso não fazer a viagem dos sonhos, posso não comprar um passagem pra visitar a lua, e talvez eu nunca possa fazer isso, apesar de sonhar em fazer isso, adoraria fazer isso, mas eu não vou ter dinheiro pra isso, porque eu sou uma ingênua purista. Ja melhorei um pouco, mas eu continuo como uma garota de 16 anos que descobriu que pode se expressar pela palavra. E tenho total amor, paixão admiração por quem faz T E A T R O. Que vai lá, se aquece, e faz ao vivo, de carne e osso, para o público que foi la assistir. Essa, pra mim, é a magia do meu ofício e eu continuo pensando da mesma forma. Embora ele não me ajude muito a ganhar dinheiro.(risos). Eu tenho pé no chão sobre isso, eu sei. Eu sei que é assim, por isso que eu sou professora. Porque eu quero ensinar isso. Se depois ele for um bom comerciante dessa arte, melhor pra ele.

O teatro está em extinção?

– Não, nunca acreditei nisso. Antes de eu nascer ja falavam isso. Quando apareceu o cinema o teatro estava em extinção… quando aconteceu a TV também, quando aconteceu o 3D também… É difícil levar público, mas quando ele vai ele curte. É uma questão de formar esse público. De saber que vão ter sempre os idiotas, mas também terão sempre as pessoas que vão querer um pouco mais do que aquilo que é descartável. É uma experiência de vida. Como tem gente que vai buscar o chá do Santo Daime para poder fazer uma viagem transcendental, o teatro também pode proporcionar isso. O teatro não vai morrer nunca. Nunca. Porque se tiver uma pessoa fazendo, vai ter uma pessoa assistindo.

Qual seu ideal de atriz diretora e professora?

É difícil idealizar as coisas, idealizar é como eu digo pro meus alunos: Não idealize seu personagem, senão você não vai viver aquilo que você pode viver para realizar aquilo. Idealizar, o plano A, é pra quando você é muito novo. Você percebe que o plano A dificilmente você vai realizar, então você vai encontrando outras formas de chegar ao que você quer, e você vai aprendendo no caminho, e ai você para de idealizar, porque idealizar quando você tem 20 anos é fácil, quando você tem 40, isso já vira burrice. Já passaram-se 20 anos e você ainda está correndo atrás de um ideal.. E você fez o que durante esses 20 anos?

Você deve viver o processo da coisa!  É exatamente como eu penso que é fazer teatro. É viver o processo. Se eu idealizar o processo, não rola. Diferente de mentalizar. Você começa um novo projeto: Você para, mentaliza a gente no palco recebendo aplausos, com crítica favorável e casa cheia… Eu mentalizo aquilo, mas é mentalizar não idealizar. Porque se eu chegar nesse dia com casa cheia, tudo pronto, e aplausos é porque eu consegui realizar. Eu acho difícil idealizar porque você perde a noção da realidade, e você não lida com aquilo que acontece amanhã ou hoje, e que pode te ajudar a chegar nesse ideal. Você não vê, e fica cego. Isso na minha opinião. Isso foi o que eu aprendi.

Mentalize, projete uma meta, mas viva o projeto de realizar. A maioria das vezes você consegue realizar aquilo sim. Pode ser que tenha mais percalços que o ideal, mas a benção seria, o ideal seria, se você tivesse um mecenas que te patrocinasse. Isso seria o ideal, mas é bobagem falar. Ou um governo, ou um publico que ao invés de querer ver Big Brother, queira ver As Troianas! (Risos)

Esse foi um pouquinho da entrevista que em breve será publicada aqui no portal Boa Vista com a grande Atriz, Diretora e Professora Inês Aranha.

Tive o grande privilégio de te-la como minha professora, e espero que essas palavras toquem fundo na alma de artista de vocês e façam vocês seguirem seus sonhos, independente das dificuldades, da pressão da sua família, ou  mesmo pela falta de perspectiva e segurança dessa profissão aqui no Brasil.

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