Qual modelo de cidade você gostaria de viver? Esta pergunta sugere milhares de respostas a partir do perfil de cada pessoa. A cidade do Recife, na região nordeste do Brasil, encravada a leste do Oceano Atlântico fez as suas escolhas e também as suas imposições dos negócios imobiliários, da política de mesquinhez e das boas e más gestões público-administrativas ao longo dos 400 e tantos anos de existência.

Historicamente, a cidade do Recife foi relegada ao segundo plano diante de Olinda, quando o fidalgo português Duarte Coelho teria avistado a vila, encravada entre montanhas ainda verdes da mata atlântica, e bradado: “Ó linda situação para uma cidadela”.

Recife, então, era um alagado plano de manguezais de areia preta asquerosa. Como o único ambientalista da época chamava-se Charles Darwin e não morava no Recife, não havia quem explicasse à sociedade a importância daquela porção de terra escura, “suja” e cheia de bichos estranhos.

Então, pela lógica universal da “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, cimentou-se o mangue que alimentava os córregos, afluentes e os rios Capibaribe e Beberibe que cortam a cidade.

O lúcido holandês Maurício de Nassau, experiente com os canais de sua terra natal, deu alguma importância às terras alagadas e construiu para a cidade canais, diques, pontes e overdrive. Em sua homenagem, a ponte que liga o bairro do Recife Antigo ao de São José recebeu seu nome e uma estátua que quase mais ninguém percebe.

Aperte o botão “adiantar” e caia no Recife do século 21, com todas as delícias de uma cidade nordestina mediana com três milhões de habitantes e todos os problemas de uma cidade grande sem infraestrutura e maltratada pelos gestores e pela própria sociedade.

Recife é um misto de delícia e inferno e o seu apelido hellcife, dado pela voz rouca das ruas não se dá por acaso. Seria a cidade mais linda do mundo, se estive em algum país europeu cortado por rios limpos, pontes conservadas e ruas de calçadas largas.

Mas Recife está montada sobre concreto em cima de manguezais, rios e canais que, retirados de sua liberdade de se movimentar ao sabor das marés, explodem em fedor, lixo e cheias a cada estação chuvosa, entre abril e agosto. Como se esta situação esdrúxula já não fosse suficiente, o lixo jogado sobre o que restou das águas pluviais são depósitos de resíduos orgânicos, plásticos e outros materiais de longa duração.

Em alguns lugares da Comunidade do Coque, no bairro de Joana Bezerra, área central do Recife, a população faz o “número 2” num saco e joga no Rio Capibaribe. “Não tenho outro lugar”, diz o senhor de 90 anos, negro, pobre e esquecido pelas autoridades públicas.

Ele é um dos personagens entrevistado pelo projeto social Recife bom para viver e realizado pelo Partido Verde de Pernambuco, entre setembro de 2015 e março de 2016. São esses “personagens” que contam a história real da cidade, a história que a classe média alta empoleirada em edifícios altos construídos sobre manguezais sufocados não quer saber.

Os políticos sabem e prometem ajudar, mas esquecem da promessa ao passar a eleição. Há uma realidade paralela da sociedade com a realidade dos folders das agências de viagens que instigam o turismo com lindas fotos da cidade e o slogan “Visite o Recife” e o das campanhas milionárias da Secretária de Turismo Municipal.

Um universo esquecido de pessoas, os personagens; e de lugares, os cenários.

Vamos contar aos poucos várias dessas histórias esquecidas – ou que se tenta esquecer – da cidade do Recife que o projeto social Recife bom para viver vem revelando em imagens e entrevistas. Serão 18 caminhadas por microrregiões da cidade. Uma radiografia nunca antes feita por um partido político. A iniciativa é do presidente da sigla estadual, Carlos Augusto Costa.

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