Continuação da entrevista:

Hoje você está terminando o mestrado em cinema na SCAD em Savannah EUA, e ja se prepara para um novo longa metragem, tem algo que você possa adiantar sobre esse novo projeto? 

Por enquanto eu não posso falar muito ainda sobre o proximo longa metragem, só posso falar o titulo do longa metragem que eu estou finalizando agora, chama-se “Black and white”, e você mesmo que está me entrevistando participa de varias funções nesse longa metragem. O “Black and white” é uma produção internacional com atores e gente de vários lugares do mundo. Ele está agora 99% pronto, mas eu não vou falar muito pra não gerar expectativa, na hora que ele aparecer, na hora que o trailer começar a ser promovido por ai, a gente fala oficialmente sobre esse projeto.

 

Nos seus filmes você produz, roteiriza, atua, dirige, faz a trilha sonora, edita e tudo mais que for necessário. É uma questão de corte de custo, ou de garantir a obra final da maneira que você a concebeu? 

Na verdade, Thiago, não tem nem a ver com o custo e nem tem a ver com garantir que a obra fique da maneira que eu concebi. Isso é um grande privilégio, como eu mesmo ja mencionei no início da entrevista, eu me considero um contador de histórias, desde muito criança, eu amo contar histórias; e o que vou falar pode parecer muito maluco, ta? Talvez alguns leitores não entendão isso, mas pra mim, escrever um roteiro, é a mesma coisa que compor uma trilha sonora, pra mim editar um filme é a mesma coisa que atuar e desenvolver um personagem. Eu enxergo isso na minha alma e no meu coração como uma coisa só, isso é story telling, isso é contar historias, mas a musica, o roteiro, são simplesmente manifestações artísticas diferentes, são variações sobre o mesmo tema, que tem a mesma finalidade, contar histórias, emocionar as pessoas com esssas histórias, dividir isso com o público, com a plateia. Então as vezes eu não consigo me conter, eu começo a escrever um roteiro, e já começo a imaginar as personagens, quando eu começo a imaginar os personagens, na minha cabeça eu já consigo ouvir a trilha sonora, então a história vai se criando pronta na minha cabeça, com absolutamente tudo, entao não chega a ser por questao de corte de custo e nem pra garantir a obra final, é que simplesmente algumas histórias aparecem prontas, em todos os seus detalhes, em todas suas minúcias, e isso é uma delicia, então não é por questao de corte de custo e nem pra garantir a obra final é simplesmente vontade de contar uma historia.

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O antigo “Crosses and Stars”, agora entitulado de “Black and White” é um filme bem ousado, da onde surgiu a idéia de tratar desse tema, e por quê ele é importante para você a ponto de você querer retrata-lo em um filme? 

O “Black and white” é realmente um filme bastante ousado e que trata de um tema bastante delicado. E o tema é justamente a intolerância que existe hoje em dia no Brasil, muitos de nós pensamos no país do samba, do carnaval, do futebol, do acarajé só que não é bem assim, as coisas tem mudado bastante, basta as pessoas acessarem as redes sociais hoje em dia pra ver que o Brasil é um pais bastante agressivo, as pessoas tem se agredido demais nas redes sociais, tem brigado demais a troco de besteira, a troco de nada. A intolerância tá crescendo cada vez mais no Brasil, o Brasil que outrova foi reconhecido como um país de liberdade religiosa, liberdade sexual, ta se transformando muito, de repente você tem homosexuais sendo persseguidos o tempo todo, sendo agredidos, sendo assassinados, o Brasil tem uma estatística muito triste: É o número 1 no mundo em assassinato de homosexuais, a cada 28 horas um homosexual é assassinado no Brasil, a cada 41 minutos uma pessoa negra é assassinada no Brasil, a cada 15h um crime de intolerância religiosa acontece no Brasil. Essas estatisticas são trágicas, e as pessoas não tem falado sobre isso. Além disso é bom lembrar que o Brasil tem um relacionamento amoroso historico com o nazismo. Desde a primeira pra a segunda guerra mundial, milhares e milhares de criminosos de guerra nazista foram pro Brasil, buscaram refúgio e foram muito bem recebidos aqui. Agora esses caras tiveram filhos, esses filhos tiveram filhos, então nós temos ai duas ou três gerações de nazistas por aqui. Num momento em que a intolerância tem se alastrado cada vez mais, ou seja é momento de falar sobre isso, ou seja, as pessoas no Brasil ficam falando de PT e PSDB e isso é importantíssimo, a discussão política tem que acontecer, mas há uma discussão social, cultural que também tem que acontecer. A questao da intolerância social, a intolerância cultural a intolerância religiosa, e a intolerância sexual que não tem a ver com um partido ou com outro, e sim com a população como um todo, isso tem que ser discutido. O “Black and White” discute isso tudo, e é por isso que eu quis fazer esse filme.

 

Boa parte da equipe e dos atores foram alunos seus, como é trabalhar com pessoas que foram formadas por você?

Cada um tem sua própria individualidade, o que eu faço é lembrar os meus alunos do pontencial que eles têm. E eu desafio os meus alunos, e provoco eles para que eles façam o seu melhor, que eles se superem cada vez mais, então trabalhar com eles é uma delícia. E eu não tenho como descrever como é trabalhar com os meus alunos ou ex-alunos, eles são os melhores profissionais com quem eu posso trabalhar. Eu trabalho com profissionais do mundo inteiro, e nenhum profissional me dá tanto prazer como meu ex-aluno, como meu aluno, porque eu sei o quão dedicado eles são, o quão exigentes eles são. Eu conheço a ética profissional deles todos e eles realmente arrasam. Você é um ex-aluno meu que trablahou comigo já em mais de um longa metragem, o “Black and white” não foi o primeiro, e sempre sua ética profissional incrível e irretocável. Então trabalhar com meus alunos e ex-alunos é incrível. Descobrir a individualidade deles, as forças de cada um, as preferências de cada um também é uma coisa muito muito linda.

 

Vamos agora falar um pouco da vida do ator, porque a formação do ator se difere tanto da de outros artistas? Alguém que nunca estudou música nunca tocaria em uma orquestra, por quê alguém que nunca estudou atuação consegue por beleza ou desinibição estar a frente das câmeras ou de uma plateia? 

Vou ser extremamente honesto com você, eu também quero saber a resposta pra essa pergunta, eu não sei, eu realmente não sei.

 

Qual o grande problema na formação dos atores brasileiros? 

Na minha opinião, os atores brasileiros enfrentam o que os atores do mundo inteiro enfrentam, mas alguns problemas são muito particulares dos brasileiros. O problema dos atores do mundo inteiro que é comum, é sem dúvida a vaidade e o ego. Muitos atores acham que querem ser atores, mas eles não querem ser atores, eles querem ser famosos, querem ver sua carinha na televisão ou no cinema, isso não é querer ser ator. Se é isso que o motiva, sem dúvida sua trajetoria será bastante problemática. Agora um problema bem particular brasileiro é que muitas tecnicas incríveis e maravilhosas, desenvolvidas por vários grandes atores no mundo inteiro nunca chegaram direitinho no Brasil. O “La film” e o “Instituto Stanislavsky” são na verdade as primeiras instituições no Brasil que trouxeram essas técnicas pro nosso país. E quando voce pensa que o “La Film” é uma instituição muito, muito nova, nós temos menos de 10 anos, aí você percebe que  é pouco tempo ainda pra modificar toda a nossa classe artística, sem dúvida iremos reconhecer aqui no Brasil uma geração muito diferente de atores brasileiros, já fruto desse trabalho desenvolvido no “LA film”, as técnicas que eu estou me referindo, é o sistema inteiro do Stanislavsky. Isso é um assunto que gera muita polêmica, muita controvérsia. Este tema também renderia uma entrevista inteira, a parte, muita gente vai ler essa entrevista e vai achar que eu to falando uma grande bobagem, vai achar que o sistema do Stanislavsky já chegou no Brasil há muito tempo, o que não é uma verdade, o sistema do Stanislavsky nunca chegou de maneira adequada, de maneira íntegra no Brasil. Até que o LA Film trouxe o Instituto Stanislavsky pro Brasil. Mas de novo, isso é uma discussão a parte, isso é uma conversa a parte, bastante longa, bastante complexa. Mas além do sistema Stanislavsky, da técnica Stanislavsky, tem a técnica Meisner, tem a técnica Checkhov, tem os ensinamentos do Vakhtangov, técnicas usadas por grandes, grandes atores, que são quase desconhecidas pelos atores brasileiros, a menos aqueles que passam pelo LA film, que ai passam pelo estudo profundo dessas técnicas.

 

Continua em próximo post. Fique ligado!

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